INTENDENETE NO MUNICÍPIO DE CEARÁ MIRIM NO PERÍODO
DE 1892 A 1913
O Cel. Felismino do
Rego Dantas Noronha, fundador do Partido Republicano no Rio Grande do Norte, e,
ao falecer, o último remanescente dessa fundação, era membro da Guarda
Nacional, título esse que lhe fora concedido por merecimento, pelo Governo
Federal, como acontecera a outros homens de valor do seu tempo.
Comunicativo,
educado, tolerante, prestimoso, intransigente com qualquer espécie de abuso,
fiel, honesto e trabalhador. Possuía todas as qualidades inerentes a um homem
de bem.
Foi nascido a 8 de
agosto de 1853, na localidade de Santo Antão, em Pernambuco, e, bem jovem
ainda, no ano de 1870 e na companhia de seus pais, transferiu-se para o Rio
Grande do Norte e se fez agricultor e criador no vale de Ceará-Mirim. De
início, como proprietário do Guarani, onde, ao que nos informam, nasceram todos
os seus filhos. Daí se mudou para o engenho União, do qual se tornou
proprietário depois de pagá-lo duas vezes, em virtude de falcatruas cometidas
pelo vendedor, sendo a segunda vez ao banco do Brasil, que não o tomou, como
convinha aos politiqueiros dominantes da época, seus adversários políticos,
graças à intervenção do seu filho Virgílio e do amigo e compadre deste,
capitalista e homem de negócios João Tinoco, junto aos poderes competentes.
Em seguida se tornou
também proprietário dos engenhos Verde Nasce, cuja administração entregou ao seu
genro, Artur Moura e, posteriormente, por motivo de falecimento deste, ao seu
filho Eitor e que hoje, por herança, de propriedade de seu neto Herbert
(atualmente pertence aos filhos de Herbert); e do engenho Divisão, entregue a
outro genro, Abelardo Fonseca que, em conseqüência de ter perdido um braço na
moenda do mesmo, não pode continuar administrando-o, passando a sua propriedade
a estranhos.
Teve, ainda, o
Coronel Felismino, uma fazenda de criação no muicípio de Baixa Verde, hoje João
Câmara, denominada Mata Cabra.
A par dessa
prosperidade econômica se desenvolvia, em conseqüência do seu dinamismo e
retidão de suas atitudes, grande popularidade a seu favor, tornando-o líder ou
chefe político do Império à República e em várias décadas, não só no município
de Ceará-Mirim, como também nos de Taipu, baixa Verde, Lages, Extremoz e
Touros, com grande influência junto aos homens de prestígio e poder no Estado.
Essa excepcional
situação, valeu-lhe seis mandatos de deputado estadual até o governo de Joaquim
Ferreira Chaves que, em 1915, derrubou-o através de golpes de violência e
traições. Ainda assim, já aos 82 anos de idade, a 14 de outubro e de 1935 até
1937, foi eleito deputado estadual pela sétima e última vez. E,
viúvo há 9 anos, faleceu com mais de 85 anos de idade a 25/12/1938, na cidade
de Ceará-Mirim, onde está sepultado com a sua esposa e muitas outras pessoas da
família.
Homem de instrução
primária, mas de inteligência e capacidade de trabalho além do comum, casou a
28 de fevereiro de 1877, com Maria Amélia Pereira Pacheco, filha do capitão
José Muniz Pacheco e Francisca Leite Pereira, havendo do casal 15 filhos, dos
quais sete homens e oito mulheres, sendo que, destas, cinco faleceram
solteiras, enquanto dos homens apenas um não casou – faleceu aos cinco anos de
idade.
De dedicação
extremada à família, em diversas fases de sua vida, com seu incansável labor de
sol a sol de Senhor de Engenho, lavrador e criador, não apenas ajudou em parte,
mas sustentou, integralmente, filhos, genros, irmãs e irmãos desempregados, e,
uma vida inteira, a uma irmã e a uma cunhada solteiras e sem arrimo e a uma
chusma de parasitas polítipos, que viviam aportados à soleira de sua residência,
a lhe tomarem dinheiro e se cevarem nas suas panelas.
O Artigo, Coronel
Felismino Dantas, publicado no Jornal “A República” em 13 de setembro de 1936,
assim descrevia: “O Coronel Felismono do Rego Dantas Noronha, senhor do “Engenho
União”, antigo Presidente da Intendência, chefe político de grande e
tradicional prestígio em todo o município, é uma das mais veneráveis relíquias
do Ceará-Mirim. Vulto das primeiras páginas da história republicana do Estado,
companheiro fiel de Pedro Velho, um dos signatários do manifesto redigido pelo
“condottieri” do regimen de 1889.
O coronel Felismino
Dantas, não é, entretanto, apenas uma legenda do nosso passado. O seu espírito,
fortalecido no trabalho, enrijecido no lucto constante com a terra, é como um
cerne desses carvalhos seculares que não se dobram aos vendavais da tempestade.
No recente embate político que agitou as energias mais vivas do Rio Grande do
Norte, todos vimos a sua atitude estóica, a sua resistência moral, a sua
lealdade e o seu imenso amor a palavra empenhada. Contra o caráter desse ancião
octogenário, o tempo não teve forças para conspirar na tentativa de
enfraquece-lo ou derrui-lo.
Ahi está o velho Coronel Felismino do Rego Dantas
Noronha, deputado à Assembléia Legislativa, tradição nobre e vigilante de um
heróico passado attestando como a velhice de agora pode se
projetar no presente contra as mesmas energias da mocidade. Rendendo-lhe esse
preito, na edição dedicada ao município que tantos serviços deve ao Cel.
Felismino Dantas. A República tem como intenção primordial destacar, para
exemplo dos de hoje, o velho chefe republicano, um dos padrões de civismo e da
coragem norte-riograndense, e que soube ser na velhice tão fervoroso na paixão
pela nossa liberdade.
Do livro: Síntese Biográfica:
Desembargador Virgílio Otávio Pacheco Dantas – Centenário (1872-1972. De Menerval Dantas, 1981.